ARNALDO GARCEZ. UM REPÓRTER FOTOGRÁFICO NA 1ª GRANDE GUERRA, 2000

Em 9 de março completaram-se 100 anos da entrada oficial de Portugal na Grande Guerra.

 

 

 

Arnaldo Garcez

Arnaldo Garcez. Um Repórter Fotográfico na 1ª Grande Guerra

Fotografia de Arnaldo Garcez / Texto de António Pedro Vicente

Porto: Centro Português de Fotografia / 2000

Português e inglês / 13,1 x 16,0 cm / 92 págs.

Brochura

ISBN (10): 9728451156

 

 

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Este pequeno livro presta homenagem a Arnaldo Garcês, que se destacou como fotógrafo de guerra, deixando-nos preciosos testemunhos sobre a realidade da Grande Guerra, a I Guerra Mundial. Durante muitos anos, as suas fotografias foram praticamente os únicos registos de portugueses.

 

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Arnaldo Garcez, in Arnaldo Garcez. Um Repórter Fotográfico na 1ª Grande Guerra, Porto: CPF, detalhe

 

Arnaldo Garcez Rodrigues (Santarém, 18.10.1885-) concluiu a instrução primária e iniciou a sua atividade profissional com aprendiz de relojoeiro, que continuou quando se mudou para Lisboa juntamente com a sua família.

Iniciou-se na fotografia, com uma máquina fotográfica tipo caixote, vindo a adquirir uma “Spido Gaumont”, máquina sofisticada e obrigatória para um repórter fotográfico, ainda antes da proclamação da República; passa assim a colaborar com vários jornais da capital, a partir de 1904, a par de Joshua Benoliel e Novais.

Por esta época começa a ganhar forma a possibilidade de Portugal vir a participar na I Guerra Mundial e o contingente português começa a sua preparação na base de Tancos. O General Norton de Matos, então Ministro da Guerra e de quem Garcez era amigo, dá ordens para que seja feita uma reportagem fotográfica dos treinos de preparação para a guerra, convidando-o em 1916.

Em ofício confidencial de 26.VI.1916, da Secretaria da Guerra, dirigido ao chefe de repartição do Gabinete do Ministério do Interior, igualmente existente no Arquivo Histórico Militar de Lisboa são dadas “ordens à Comissão de Censura a fim de não ser permitida a publicação nos jornais de fotografias sobre assuntos militares sem que apresentem uma prova vizada neste Ministério”.”

António Pedro Vicente, Arnaldo Garcez. Um Repórter Fotográfico na 1ª Grande Guerra

 

As suas imagens e a sua competência profissional, levaram a que naturalmente fosse o escolhido para acompanhar o Corpo Expedicionário Português para França e Flandres. Assim, além de registar os treinos da Divisão de Instrução em Tancos registou a instrução complementar em França no campo central de Marthes.

Arnaldo Garcez torna-se assim num dos primeiros fotógrafos “repórter de guerra” português. Tinha o cargo de “Alferes equiparado” e fotógrafo de guerra. Na “Ordem de Batalha do Corpo Expedicionário Português (CEP)”, “referida a 1 de Outubro de 1917”, o seu nome integra o grupo “I – Quartel General do Corpo”, em “20º Estado.Maior”, na alínea “c) Serviço Artistico”, encontram-se dois nomes: “Cap. equiparado – Sousa Lopes / Alf. equiparado – Arnaldo Garcês” (cf. Dorbalino dos Santos Martins, Estudo de Pesquisa sobre a Intervençao Portuguesa na 1.ª Guerra Mundial (1914-1918) na Flandres (Colectânea de Documentação), Lisboa: Estado-Maior do Exército. Direcção de Documentação e História Militar, 1995. Pgs. 91-93).

Em França registou o quotidiano das tropas, os treinos militares, os batalhões e as baterias deslocando-se para as frentes de batalha, o quotidiano das tropas, os seus diferentes serviços, assim como a vivência dos soldados nas trincheiras e nos postos da retaguarda, as visitas e receções oficiais, quer a diversas entidades quer aos presidentes da República francesa e portuguesa, as guardas de honra, as “Damas Enfermeiras” da Cruz Vermelha, o desfile do exército português, nos Campos Elísios, em Paris, no 14 de Julho de 1918, as entregas de condecorações e a evacuação dos civis. Também o panorama da destruição, quer das casas, das povoações, foi testemunhado pela sua câmara, quer na Flandres, quer no vale do rio Lys, onde se encontrava a frente portuguesa. Contudo, o sofrimento humano não foi mostrado, “naturalmente impedido pelos objectivos do seu trabalho e pela necessidade de não desmoralizar as populações que no país nada sabiam sobre o sofrimento dos seus parentes.”

As suas imagens da frente da Flandres foram publicadas nas revistas da época, nomeadamente a Illustração Portugueza (revista semanal do jornal “O Século”) e Portugal na Grande Guerra. Participou ainda em várias exposições, como a Exposição Fotográfica Inter-Aliada em Paris, em Novembro de 1917 e publicou naquela cidade um conjunto de 72 (75?) postais fotográficos, na casa Lévy Fils e Cia.

Assinado o Armistício, pelo Tratado de Versalhes, a 11.11.1918, Arnaldo Garcez fotografa a participação de batalhões nacionais nas festas da vitória em Paris, Bruxelas e Londres, em Julho de 1919 e regista os cemitérios onde repousam os restos mortais dos militares portugueses.

Em 1920, em Cherburgo, casa com Marcele Margueritte Alphonsine Marneffe, de quem tem três filhos: Joaquim, Rui e Charles. Dedica-se a várias exposições fotográficas e outras atividades ligadas à Grande Guerra.

Regressa a Portugal em 1921, sendo o fotógrafo das cerimónias fúnebres dos Soldados Desconhecidos da Europa e África, que tiveram lugar em Lisboa e no Mosteiro da Batalha, em 9 e 10 de abril de 1921, fez parte da Liga dos Combatentes e colaborou no levantamento de monumentos alusivos aos mortos na Grande Guerra, o que aconteceu por todo o país, sendo ainda membro da “Comissão de Padrões da Grande Guerra”, constituída por militares e civis dedicados e ilustres.

Colabora com os jornais O Século e Diário de Lisboa.

Era frequentador da Liga dos Combatentes e do Café “A Brasileira”, no Chiado, ponto de encontro de antigos combatentes e de muitos intelectuais marcantes dos anos 20, como Aquilino Ribeiro, Reinaldo Ferreira, André Brun, Ramada Curto, António Ferro, Artur Portela, Norberto Aranjo, António Botto, Joaquim Manso, Guadino Gomes, Gago Coutinho e Mendes Cabeçadas.

O seu prestígio e a amizade com Coutinho leva-o a fazer uma grande reportagem sobre os preparativos e a partida para a Travessia Aérea de Atlântico Sul levada a cabo por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que largaram de Lisboa em 22 de março de 1922.

Deixa o jornalismo e em 22 de fevereiro de 1923, funda a casa Garcez, Lda, no Chiado, dedicada à fotografia: venda de máquinas fotográficas e laboratório e viria a editar diversas publicações técnicas.

Entre as várias condecorações civis e militares que lhe foram atribuídas, destaca-se as Ordens de Santiago, da Vitória e a Cruz de Guerra.

Faleceu em 5 de agosto de 1964, com 78 anos.

 

 

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