LUÍS FERREIRA ALVES (1934 – 2022)

Luís Ferreira Alves (Vila Nova de Gaia, 1938 – Porto, 10.07.2022)

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Conheço alguma fotografia de Luís Ferreira Alves. Imagens de arquitetura. Exatas, rigorosas. Um olhar profundo sobre a obra, destacando a sua essência, a sua marca, o que é. Desde o olhar de longe, panorâmico, ao detalhe. Com uma grande sensibilidade.

Luís Ferreira Alves foi um dos pioneiros da fotografia de arquitetura em Portugal.

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Luís Ferreira Alves nasceu em Valadares, Vila Nova de Gaia, em 1938.

Seccionista activo do Cineclube do Porto, nos idos de 50, co-fundador da Secção de Formato Reduzido e Cinema Experimental, fez parte da equipa que realizou o documentário “Auto da Floripes”. Em 1962 foi preso pela PIDE e julgado no Tribunal Plenário do Porto, tendo sido compulsivamente afastado do Banco Ferreira Alves & Pinto Leite onde até então trabalhava junto de seu pai. Oeositor ao regime do Estado Novo, entre 1959 e 1974, seria preso pela PIDE cinco vezes e passaria mais de 200 dias detido.

Exerceu então variadíssimas actividades comerciais que lhe deixaram pouco tempo para os seus projectos pessoais.

Antes de se dedicar à fotografia de Arquitetura, registou a atividade teatral de companhias portuenses, como o TEP, o TUP ou o TEAR.

No início dos anos 80 retomou, como amador, intensa actividade fotográfica, sendo de registar a exposição em colaboração com Gabriela Ribeiro sobre o teatro independente “Fotografia de Cena” na Cooperativa Árvore, onde também expôs mais tarde uma grande série de imagens subordinados ao tema da destruição urbana da cidade do Porto – “Em busca da cor perdida”. Em 1983 e como consequência dessa actividade foi convidado pelo seu amigo Arq.º Pedro Ramalho a apresentar num seminário da Escola Superior de Belas Artes do Porto um diaporama sobre a sua obra arquitectónica; foi esse o ponto de partida para a sua actividade como fotógrafo profissional.
Baseado no Porto, na Rua da Alegria Parque do Lima, especializou-se na fotografia de arquitectura, património e território, fotografando desde os anos 1980 a 2020, sendo publicado regularmente em revistas de todo o mundo, contribuindo para a promoção da fotografia e da arquitetura portuguesa. Colaborou intimamente com arquitectos da chamada Escola do Porto nomeadamente Eduardo Souto Moura, Álvaro Siza, Viana de Lima, Agostinho Ricca, José Gigante, Graça Correia, Paula Santos ou Guilherme Machado Vaz.
Realizador de vídeos de arquitectura e culturais, tem dezenas de livros editados e realizado inúmeras exposições, algumas delas em co-autoria, dentro e fora do país.

Em 2016 publicou um livro sobre a sua longa colaboração com Eduardo Souto de Moura, “Luís Ferreira Alves – Fotografias em Obras de Eduardo Souto de Moura”; em 2017, publicou em parceria com o arquiteto Álvaro Siza um livro sobre a Casa Beires quarenta anos depois da sua construção; em 2018, a Câmara Municipal de Matosinhos, editou o livro e promoveu a exposição “Real Vinícola Uma Reconversão” com curadoria do arquiteto Guilherme Machado Vaz; em 2019, “Reclusão Inclusão”, com Guilherme Macedo e em 2020, edita o livro “Peroguarda 58/59 Alentejo” com fotografias e o testemunho de uma fascinante experiência da sua juventude.

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Anúncios de lançamento de diversos livros de Luís Ferreira Alves, 2016, 2016, 2017, 2017,2019, 2019.

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Em 2011, o Clube de Vela Atlântico institui o Troféu Luís Ferreira Alves em sua homenagem.

A Ordem dos Arquitectos atribuiu-lhe o título de Membro Honorário em Lisboa, a 8 de Outubro de 2013.
A 9 de Julho de 2015 foi agraciado pela Câmara Municipal do Porto com a Medalha Municipal de Mérito – Grau Ouro e em 31 de outubro de 2021, o Ministério da Cultura atribuiu-lhe a Medalha de Mérito Cultural – Grau Ouro, numa cerimónia que decorreu na Casa da Arquitectura.

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De acordo com Nuno Sampaio, diretor da Casa da Arquitetura, em Matosinhos, ao Jornal de Notícias, Luís Ferreira Alves era uma pessoa “extremamente culta”, com “capacidade de ensinar e contaminar todos os que com quem ia convivendo”, “No que toca à arquitetura, foi realmente único. Ainda era do tempo da máquina analógica, em que cada fotografia era uma oportunidade. Portanto, às vezes, numa tarde inteira, tirava umas quatro ou cinco fotografias. Mas essas imagens faziam-nos ver a arquitetura de maneira diferente e eu acho que muito daquilo que é conhecido nacional e internacionalmente da arquitetura portuguesa, deve-se ao Luís Ferreira Alves. Era um fotógrafo silencioso e tranquilo.”

Luís Ferreira Alves faleceu na sua casa no Porto, dia 10 de julho de 2022, aos 84 anos, vítima de doença prolongada.

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Luís Ferreira Alves, Casa da Arquitectura, Matosinhos, Arqt. Guilherme Machado Vaz (3) – Casa do Cinema, Porto, Arqt. Eduardo Souto de Moura – Casa em Alcanena, Arqt. Eduardo Souto de Moura – Casa em Cascais, Arqt. Eduardo Souto de Moura – Casa Magalhães Romão, Vila Praia de Âncora, Arqt. Serôdio, Furtado & Associados (2) – CAV, Centro de Artes Visuais, Coimbra, Arqt. João Mendes Ribeiro (2) – Centro Interpretativo do Vale do Tua, Foz Tua, Arqt. Rosmaninho + Azevedo (3) – Complexo Termal de Vidago, Chaves, Arqt. João Paulo Loureiro (2) – Convento de Santa Maria do Bouro, Braga, Arqt. Humberto Vieira e Eduardo Souto de Moura (2) – Orquestra Jazz de Matosinhos, Arqt.º Guilherme Machado Vaz (3)

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Pode conhecer mais sobre a obra de Luís Ferreira Alves aqui (Divisare.com), aqui (Público) e aqui (JN).

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