NUNO LEÃO, DIZER ADEUS ÀS COISAS, SEGUIDO DE UMA TEORIA DA IMAGEM (OU A PERFORMANCE DO MUNDO), 2018

Em exposição em Vila Velha de Ródão, na Biblioteca Municipal José Baptista Martins, Rua de Santana s/n, de 25 de janeiro a 23 de fevereiro de 2019.

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Nuno Leão, Dizer adeus às coisas, 2015 – 2018

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Nuno Leão

Dizer adeus às coisas, seguido de Uma teoria da imagem (ou A performance do mundo)

Fotografia: Nuno Leão / Ensaio: Diogo Martins / Design gráfico: Rita Boavida

Edição do Autor / 2018

Produção: Terceira Pessoa Associação

Português / 21,0 x 24,5 cm / 104 pág.

Brochura / 100 ex.

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Nuno_Leao-Dizer_adeus_as_coisas (1)

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[esquecer as coisas é lembrá-las de outra forma]

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“dizer adeus às coisas é uma série fotográfica de Nuno Leão que se iniciou em 2015 e se apresenta agora em 2018. A série foi inicialmente criada para resultar numa instalação de projeção de texto e fotografia em diapositivos de 35mm, na qual o/a espectador/a tem o comando para acionar a passagem das fotografias e do texto, decidindo assim o tempo a dedicar a cada fragmento e compondo também o ritmo da própria instalação. Através desta série fotográfica Nuno Leão iniciou aquilo que gosta de olhar como “uma coleção de ausências e de presenças, de objetos e paisagens que aqui emergem enquanto rastros, espectros, vestígios e indícios”.

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O livro foi assim construído como um objeto através do qual se procura a criação de um espaço de intimidade entre a obra e o leitor, apresentando-se a série fotográfica “dizer adeus às coisas”, seguida do ensaio “uma teoria da imagem (ou a performance do mundo)” que Diogo Martins escreveu a partir das fotografias, tomando-as como motivo para pensar a relação entre a fotografia e os espaços e tempos que habitamos através das experiências do olhar.

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Do ensaio de Diogo Martins, “Uma teoria da imagem (ou a performance do mundo)”:

“Em Dizer adeus às coisas, desfaz-se qualquer hierarquia de olhares, desalinha-se naturalmente as taxonomias das ciências naturais: um baloiço ao abandono e um anjo de jardim e a beira de um tanque e uma mão grácil. E e e – aquilo que Deleuze define como “uma micro-política das fronteiras, contra a macro-política dos grandes conjuntos” (Deleuze, 2003: 70), “o gaguejar criador” ou a reivindicação proustiana de um “uso estrangeiro da língua” – “[…] aí onde as imagens se tornam demasiado cheias e os sons demasiado fortes” (ibidem). Resulta desta contiguidade ontologicamente selvagem uma espécie de impessoalidade inaugural, ou a restituição de um “neutro vivo das coisas”, para citar de memória Clarice Lispector, ou a epoché dos antigos estoicos e filósofos céticos. [i] O facto de serem imagens desprovidas de presenças humanas cientes do flash que as capta acentua a sua natureza espectral, alucinante, na qualidade de imagens cujos elementos fotografados não contemplam qualquer reação sensível à fotografia, qualquer insurreição perante a imagem resultante (como nos acontece quando reagimos às fotografias que nos tiram, ao aturdimento ontológico de um certo retrato real, efetivamente real, não condizer com a idealidade da nossa mais íntima figuração de nós próprios, etc.).

Mais: a quase ausência de presenças humanas acentua a natureza enigmática, egípcia (cf. Mario Perniola), destas imagens; uma certa dimensão monumental, mesmo quando, na génese destas fotografias, nada há de fabulosamente exuberante nas coisas fotografadas (afinal: o esbeiçar de um colchão velho, uma carrinha estacionada, um cão doente, etc.). Esse “ar” de monumentalidade advém, porventura, da consequência imediata de estas coisas terem sido fotografadas: são imagens registadas, inscritas na ficção da sua perenidade, não regidas pelo tempo cronológico. Sem passado ou futuro, são um contínuo resgate do presente, daquele momento presente. Como se pudessem perdurar, este carro ou este traço de avião recobrem-se de um halo de eternidade objetual, de uma espécie de consagração anunciada. Talvez como quem constrói às escuras a sua cidade em ruínas, os seus templos votados ao abandono, o cenário morto onde os séculos fazem eco e os turistas se apinham, mas baixando a voz, como quem intui o respeito pré-histórico, a-histórico, venerando, pelo chão de um sítio consagrado às musas. (O fascínio romântico pelas ruínas: um sentimento trágico desprovido de tristeza, porque aí o sujeito reconhece a destruição das coisas, inclusive dos artefactos humanos, dos produtos do seu trabalho, como parte elementar da natureza – “[…] porque a destruição, aqui, não é algo sem sentido que vem de fora, mas antes a realização de uma tendência inerente à camada mais funda da existência do objecto destruído”, segundo George Simmel, apud Medeiros, 2016: 13).”

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As imagens de Nuno Leão são fragmentos de memória, de presença, de vivência.

Dizer adeus às coisas, ao que fica, ao que passa. O que fica na memória. O que fica na imagem.

O livro acolhe estas imagens. Algumas folhas translúcidas, de vegetal, sobrepõe-se às imagens com “Apontamentos”. Como outras memórias, de conversas, de leituras. Outras imagens de diferentes suportes.

O ensaio de Diogo Martins imprime-se, quase ao fim – há uma imagem depois – num papel diferente, de diferente cor, beige e texturado. O suporte diferencia o texto da imagem. Como o texto de início.

Este livro é uma obra pensada, cuidada, bem impressa. É no seu todo, uma presença e uma recolha de afetos.

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Nuno Leão, Dizer adeus às coisas, seguido de Uma teoria da imagem (ou A performance do mundo), 2018

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Sobre DIZER ADEUS ÀS COISAS | INSTALAÇÃO:

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“dizer adeus às coisas” é uma instalação de fotografia e texto para ocupar o fundo de um corredor, uma sala isolada, um quarto vazio, uma cave, um sótão.

“dizer adeus às coisas” é um lugar onde se chega depois de se ter feito um caminho e se repousa para voltar a caminhar.

“dizer adeus às coisas” é uma coleção de vestígios, de restos, de rastos, de objetos, pessoas, animais, imagens, palavras, gestos, pensamentos.

“dizer adeus às coisas” é uma remembrança.

“dizer adeus às coisas” é um diálogo entre o que (não) aconteceu, o que (não) podia ter acontecido e o que (não) pode acontecer.

“dizer adeus às coisas” é uma tentativa de inscrever um trajeto na paisagem, ou pelo menos, as marcas que ele deixou.

Nuno Leão

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Nuno Leão, Dizer adeus às coisas, 2015 – 2018. Instalação

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Nuno Leão (Portugal, 1983), é licenciado em Teatro – Ramo Atores, pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, desenvolve o seu trabalho de criação em artes performativas de forma profissional desde 2009, sendo fundador e diretor artístico da Terceira Pessoa – Associação.

Iniciou a sua relação com a fotografia em 2014, atividade que tem praticado e aprofundado de forma autodidata. De entre os seus projetos fotográficos destaca “Filosofia da paisagem”, “Inside/Outside” (2015) e “Dizer adeus às coisas” (2015-2018). Em 2017 é artista residente na ReSart Marvão, residência artística onde inicia o projeto fotográfico “Permanecer”. No ano de 2018 lança, em conjunto com Diogo Martins, o livro de fotografia e ensaio “Dizer adeus às coisas, seguido de Uma teoria da imagem (ou a performance do mundo)” e apresenta a instalação de fotografia “Dizer adeus às coisas” em diapositivos de 35mm.

Das exposições coletivas destaca-se: “Se Alquila: Tiempo”, Madrid, Espanha, 2018; “Transgredir”, Cine-Teatro Avenida, Castelo Branco, 2017; “Camuflagem: encounters with landscape”, Casa Amarela, Castelo Branco, 2015.

Além desta, Já publicou “Flanzine Nr.16 – Pele” (Colaboração Fotografia), ed. João Pedro Azul, Porto e “Inside/Outside”, ed. Terceira Pessoa, Castelo Branco.

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Pode conhecer melhor o trabalho de Nuno Leão aqui e aqui.

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Cortesia do Autor.

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