JORGE CALADO, À PROVA DE ÁGUA. WATERPROOF, 1999

.

.

.

Jorge Calado

À prova de água. Waterproof

Coordenação e ensaio: Jorge Calado / Texto: “Explicação”: Peter Conrad  / Fotografia: Aurel Abramovici, Ansel Adams, Robert Adams, Micky Allan, Juan Carlos Alom, Merry Alpern, Augusto Alves da Silva, Alexander Apostol, Nobuyoshi Araki, Diane Arbus, Malcom Arbuthnot, Dick Arentz, Robert Ashton, Eugene Atget, Edouard Baldus, Tom Baril, George Barker, Lillian Bassman, Virginia Beahan, Laura McPhee, Antonio Beato, Felice Beato, Samuel Bourne, Brian Brake, Miguel Rio Branco, Bill Brandt, Brassai, Adolphe Braun, Manuel Alvarez Bravo, Hugo Brehme, Anne Brigman, Wynn Bullock, Linda Butler, Nicholas Caire, Harry Callahan, Julia Margaret Cameron, Paul Caponigro, Henri Cartier-Bresson, Gerard Castello-Lopes, Harold Cazneaux, Helen Chadwick, Charles Clifford, Alvin Langdon Coburn, Geoffrey Collings, Linda Connor, Louise Dahl-Wolfe, Richard Daintree, Lynn Davis, Fred Holland Day, Norman C.Deck, Philip Henry Delamotte, Robert Demachy, Jed Devine, Jan Dibbets, Pierre Dubreuil, Max Dupain, Rex Dupain, Harold Edgerton, Arthur Elgort, Rennie Ellis, Peter Henry Emerson, C.E.Engel, Elliott Erwitt, Roger Fenton, Robert Flynt, Gerrit Fokkema, Felice Frankel, Toni Frissell, Francis Frith, Hamish Fulton, Adam N.Haile, Fiona Hall, Hiroshi Hamaya, Graeme Hare, Naoya Hatakeyama, Florence Henri, Paul Himmel, David Hockney, Craig Holmes, Henry Horenstein, Hiromi Hoshikoshi, Eikoh Hosoe, George Hoyningen-Huene, Frank Hurley, Boris Ignatovich, Connie Imboden, Birney Imes, Yasuhiro Ishimoto, Graciela Iturbide, Alfredo Jaar, Lotte Jacobi, Christopher James, Robert Janssen, Mark Johnson, John Kauffmann, Kikuji Kawada, Peter Keetman, Charles Kerry, Andre Kertesz, Robert Glenn Ketchum, Carl de Keyzer, Henry King, Imre Kinszki, William Klein, Mark Klett, Michiko Kon, Fred Korth, Josef Koudelka, Frederick Kruger, Koichiro Kurita, Dorothea Lange, Harry Laprow, Jacques-Henri Lartigue, Harold Leckie, Gustave Le Gray, Laurance Le Gray, Saul Leiter, Leon Levinstein, O.Winston Link, Herbert List, Ian Lobb, Danny Lyon, Wendell MacRae, Rene Magritte, Jay Maisel, Henri Mallard, Felix H.Man, Man Ray, Sally Mann, Robert Mapplethorpe, Charles Martin, Antonio Jose Martins, Herbert Matter, Steve McCurry, Ralph Eugene Meatyard, Javier Silva Meinel, Margaret Michaelis-Sachs, Gjon Milli, Arno Rafael Minkkinen, Richard Misrach, Hal Missingham, Kozo Miyoshi, Tina Modotti, Laszlo Moholy-Nagy, Comte de Montizon, David Moore, Abelardo Morell, Barbara Morgan, Francis J.Mortimer, Martin Munkacsi, Horace A.Murch, Edweard Muybridge, Shigeichi Nagano, Osamu James Nakagawa, Rikko Nakamura, Harry Nankin, Paul Nash, Bruce Nauman, Carlo Naya, Mario Cravo Neto, H.W.Nicholls, Sandy Nicholson, Ann Noon, Paul Nozolino, Toby Old, Ruth Orkin, Max Pam, Tod Papageorge, Antonio Perini, Bill Perlmutter, Otto Pfenninger, Axel Poignant, Herbert G.Ponting, David Potts, Francois Puyplat, Raghu Rai, Tony Ray-Jones, Albert Renger-Patzsch, Leni Riefenstahl, William Rittase, Herb Ritts, Francis Robinson, Henry P.Robinson, Francesco Rocchini, Jose M.Rodrigues, Clifford Ross, Paul Roth, Arthur Rothstein, Leo Rubinfien, Yuji Saiga, Bastienne Schmidt, Leeanne Schmidt, Roger Scott, James Sherwood, Toshio Shibata, Jun Shiraoka, Wolfgang Sievers, Roman Signer, Aaron Siskind, Arthur Smith, W.Eugene Smith, Kiyoshi Sonobe, David Stephenson, Louis Stettner, Alfred Stieglitz, Rob Stratton, Mark Strizic, Karl Struss, Josef Sudek, Frank Meadow Sutcliffe, Kunihiko Takada, Takeyoshi Tanuma, Lee Yuk Tin, Shomei Tomatsu, Charles Trampus, Shoji Ueda, Ed Van Der Elsken, Bradford Washburn, Carleton E.Watkins, Weegee, Minor White, Garry Winogrand, Marion Post Wolcott, Richard Woldendorp, Jeffrey A.Wolin, Adam Woolfitt, Don Worth, Col Henry Stuart Wortley, Masao Yamamoto, Hiroshi Yamazaki, William Yang, Anne Zahalka, Steef Zoetmulder

Lisboa: Parque EXPO’98, SA; Zurique: Editions Stemmle / 1999

Português e Inglês* / 24,1 x 27,5 cm / 568 págs.

Textos: português (pg. 7-56), legendas e notas biográficas (pg. 459-564): inglês / Brochura / ISBN (10):   9728495048

Inglês / Brochura / ISBN (10): 9728495056 / ISBN (13): 9789728495053

Inglês / Cartonado / ISBN (10): 3908161266 / ISBN (13): 9783908161264

.

.

JOrge_Calado-À_prova_de_agua (1)

.

Jorge Calado-Waterproof

.

.

Há 20 anos decorria em Lisboa a EXPO’98 – Exposição Internacional de Lisboa, no ano que se comemoraram os 500 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia, com o tema “Oceanos, um Património para o Futuro”. A exposição decorreu de 22 de maio a 30 de setembro de 1998, recebeu 11 milhões de visitantes e promoveu cerca de 5.000 espetáculos.

Ao longo deste mês de agosto, faremos uma memória da EXPO’98, através de alguns livros, exposições e fotografias do evento.

.

Integrado no programa da EXPO’98, teve lugar o Festival 100 dias, essencialmente no período que antecedeu a exposição.

No âmbito deste Festival, de 27 de fevereiro a 31 de maio de 1998, a exposição “À Prova de Água. Waterproof” ocupou todo o piso superior do Centro Cultural de Belém. Este livro, o catálogo da exposição, veio a ser publicado apenas em inícios de 1999.

.

Esta exposição, foi concebida e organizada por Jorge Calado, ao longo de 3 anos, sendo ele também o autor do ensaio “À Prova de água”, que integra a obra. O tema “Oceanos, um Património para o Futuro”, levou-o a centrar-se no tema da água: «A fotografia e a vida começam na água, e assistir à revelação de uma fotografia num tanque de água é assistir também a um nascimento».

Para esta exposição, Jorge Calado percorreu dezenas de arquivos por todo o mundo, viu cerca de uma centena de milhar de imagens, escolheu 380 fotografias de 250 autores: foi a maior exposição sobre a temática da água realizada à data, tendo a preocupação de mostrar provas “vintage” e incluir escolas menos conhecidas. Jorge Calado é também o autor do ensaio “À Prova de água”, que integra a obra.

.

Jorge Calado explicava a relação da fotografia com as grandes exposições universais:

“A fotografia e as exposições universais surgiram na mesma revolução do espaço e do tempo que marcou o século XIX.

Foi em 1851, na primeira exposição universal, no Crystal Palace de Londres, onde se exibiram 800 fotografias, que as novas imagens mecânicas ganharam um verdadeiro reconhecimento oficial e popular – está-lhe directamente associada a criação da Royal Photographic Society, que agora cedeu numerosas provas expostas no CCB. Na segunda exposição, de 1855, em Paris, um novo panorama já registava a quase desaparição do daguerreótipo e proporcionou o primeiro confronto entre os grandes mestres ingleses e franceses do paisagismo fotográfico – por exemplo, entre os pioneiros Roger Fenton (September Clouds, c. 1858, albumina de um negativo de colódio húmido) e Édouard Baldus (Le Moine, c. 1855) ou os Irmãos Bisson (Aiguille d’Argentière, c.1860).

A Société Française de Photographie nascera nesse ano, defendendo «o puro amor da arte e da ciência fotográfica», mas como a exposição universal destinou a mostra da fotografia ao Palácio da Indústria, sublinhando mais a «utilidade» do novo médium entre os progressos técnicos do século do que as suas «possibilidades artísticas», a SFP, que aspirava ao Palácio das Belas-Artes, organizou uma exposição paralela – a polémica sobre o lugar da fotografia ainda continua. Em 1862, um certo J. Silveira, de Lisboa, foi um dos premiados na terceira exposição, outra vez em Londres. As exposições internacionais celebravam o avanço técnico e industrial que revolucionou a segunda metade do século XIX. Eram uma espécie de olimpíadas do progresso que concretizavam a ambição pedagógica dos enciclopedistas, enquanto se completava a exploração do mundo e a partilha das colónias. A fotografia participava do mesmo culto da máquina e da novidade e propunha-se realizar o ideal de associar a ciência e as belas-artes.

Em 1886, no Porto, a Exposição Internacional de «Photographia» ocupou o Palácio Cristal que fora construído para a Expo de 1865 e aí tiveram lugares de convidados de honra Henry Peach Robinson, mestre da manipulação fotográfica (The Lady of Shallot, 1861), e Peter Henry Emerson, paladino do naturalismo (The Eel Catcher’s Home, 1886), também estão expostos no CCB. Muito mais tarde, Mário Novais participou na exposição de 1937 em Paris e fotografou a Exposição do Mundo Português (é agora mostrado no Beato [uma das exposições integradas na programação do Festival 100 Dias]); Gérard Castello Lopes interveio com painéis fotográficos no pavilhão português de Osaka em 1970.

«À Prova de Água» actualiza essa longa tradição, associando a arte fotográfica e a utilidade da fotografia – essa fronteira, quando existe, nunca é definitiva ou «essencial», e o tempo tanto relega a vontade da arte para o território do «kitsch» ou da história do gosto como valoriza em termos estéticos a fotografia comercial ou científica.”

Sobre esta exposição, acrescentaria:

«Quis fazer uma exposição grande, que fosse uma memória das que se faziam no século passado, nos tempos áureos da fotografia, onde se chegavam a mostrar mais de mil fotografias. Esta tem à volta de 380 peças, embora seja maior o número de fotografias, porque há muitas sequências e panorâmicas.

Por outro lado, houve três ou quatro ideias fundamentais. Queria que fosse uma exposição de carácter histórico, no sentido de ter todos os grandes fotógrafos e obras-primas que nunca foram cá mostradas, e que fosse também um exemplo das técnicas mais variadas, desde as mais antigas às mais modernas.

Queria que fosse uma coisa lírica, poética, artística, etc., mas que fosse ao mesmo tempo popular, não arredando coisas a que se costuma chamar ‘National Geographic’ ou bilhete postal ilustrado: há coisas dessas, porque a fotografia também é isso; há fotojornalismo, e até há, por exemplo, certas fotografias que fui descobrir na Austrália, do séc. XIX, mal pintadas à mão, que eram a base de postais editados para atrair a emigração inglesa, mostrando a Austrália como um paraíso.

Ao mesmo tempo, queria que a exposição fosse um sinal de alarme para o que está a acontecer, não só aos oceanos e aos rios, mas também à Terra, com todos os problemas da poluição, do buraco do ozono, etc. – há também um lado político nesta exposição. Tentei juntar todas essas vertentes: a vertente histórica, pedagógica, técnica, artística e político-ecológica.»

.

As provas estendem-se de 1843 a 1997 e dividem-se em 17 secções temáticas:

«Há ‘Os Estados da Água’, que inclui tudo – neve, gelo, glaciares, geada, granizo, chuva, orvalho, géisers, nuvens, vapor, nevoeiro. A outra secção chamei ‘Os Caminhos da Água’, com a nascente, o rio, a queda de água, o lago, o pântano, o mar, o oceano. Depois seguem-se ‘Oceanos e Ondas’ e a ‘Antárctida’, que é uma das partes mais bonitas, com peças históricas das expedições do Scott e do Shackleton (com quatro fotografias do álbum que Frank Harley ofereceu ao Shackleton, com inscrições manuscritas), e também obras contemporâneas. Há outra secção que se chama ‘Na Praia’, outra sobre ‘A Natação’, com a piscina, saltos, nadadores, fotografia submarina; outra ainda, ‘Lavagens’, os banhos, duches, baptismos – a lavagem no sentido espiritual; outras sobre vela e remo, a pesca e os peixes, e ‘As Cidades Aquáticas’, só com grandes panorâmicas do séc. XIX e XX. E ainda, ‘Água Urbana’ (fontes, lagos, bocas de incêndio, poços, engenharia hidráulica), ‘Águas Perigosas’ (inundações, monção, afogamentos, naufrágios, guerra naval, poluição), ‘Água Humana’ (urina, suor e lágrimas) e ‘Água Abstracta’ (gotas, bolhas, cristais, reflexão, refracção, difusão, metáforas).»

No terminar, a instalação de “A Onda”, do australiano Harry Nankin, dezembro de 1997, e uma secção de vídeos.

A ordenação das fotografias foi readaptada para o livro, não fugindo aos capítulos em que se integravam.

As provas têm origem em mais de 60 coleções públicas e privadas de todo o mundo, entre outras, da Royal Photographyc Society, como já referido, do Museu de Arte Moderna de S. Francisco, da Corcoran Gallery of Art, de Washington, dos três grandes museus da Austrália, de Camberra, Melbourne e Sidney, do Museu de Fotografia de Tóquio, da coleção particular de Michael Wilson (uma das maiores do mundo para o século XIX) e da Colecção Nacional de Fotografia, que Calado dirigiu em 1989-90.

Estão presentes cinco fotógrafos portugueses: o comandante António José Martins, Augusto Alves da Silva, Gérard Castello Lopes, José Manuel Rodrigues e Paulo Nozolino, além de diversos olhares estrangeiros sobre Portugal: Dick Arentz (Figueira da Foz, 90), Édouard Boubat, Alvin Coburn (Câmara de Lobos, Madeira, 56), Hiroshi Horikoshi (Nazaré, 95), Joseph Koudelka, Bill Perlemutter (Nazaré, 1958), Wolfgang Sievers, e as panorâmicas de Rocchini e Charles Trampus (coleção do Arquivo Municipal de Lisboa, no capítulo «Cidades Aquáticas»).

.

Este livro é, pois, uma homenagem à água: ao mar, aos oceanos, aos rios. À importância fundamental para a vida do Homem e também um alerta para a sua degradação. Como ela tem sido testemunhada pelos fotógrafos ao longo dos tempos.

.

.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Jorge Calado, À Prova de Água. Waterproof, 2018

.

.

.