RENATO ROQUE, ARCA DE NOÉ, 2015
Renato Roque
Arca de Noé
Fotografia e texto de Renato Roque,design de André Araújo e Francisca Pimenta
Autor / Dezembro 2015
Português e inglês / 19,8 x 20,0 cm / 100 pág., não paginado
Cozido a linha vermelha, capa em cartão com impressão a relevo sem cor no rosto, com camisa em linho, cosida, impressa a branco / 200 ex. / Numerados e assinados pelo autor, os exemplares de 1 a 50 incluem uma fotografia original, numerada e assinada pelo autor
ISBN: 9789892062778
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O homem, ao morrer, apaga
com o último suspiro
o mundo em que viveu.
Teixeira de Pascoaes*
Recebi ontem este livro. Um miminho. Renato Roque idealizou-o e trabalhou-o, produziu-o e, com o apoio de crowfunding editou-o em vésperas de Natal.
Abro o envelope e retiro-o. Uma envolvente de linho, impresso a branco, o título e o autor.
Retiro o livro: capas em cartão, o mesmo texto gravado, sem cor. A lombada com a costura a linha vermelha. Abro a primeira página: as guardas vermelhas, o marcador, o prolongamento da linha de costura, segura uma folha de louro. Marca. As memórias, as tradições, o sentir e os sentidos: o toque do linho, o cheiro e o sabor do louro, vêm à memória. Estes são familiares, estão na nossa história, na nossa vivência, na vivência de cada um. Na vivência de Renato Roque.
Folheio. Vêm então as fotografias, discretas, ocupando a parte central da folha, pequenas na proporção. Intimistas. Pessoais. De memórias e afetos.
As fotografias são memórias, recordações. É um livro sobre as memórias. Dos espaços, dos objetos, dos cheiros, das pessoas, dos animais, de momentos.
As memórias são bichos domesticados que guardamos dentro de casa. *
Diz Renato Roque:
Arca de Noé é um livro de fotografia, baseado num projecto fotográfico que venho desenvolvendo há uns anos, sobre a memória, sobretudo em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade e da sua perecibilidade.
É construído a partir de dois espaços: as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas e a outra na Beira Alta, perto da raia, em Figueira de Castelo Rodrigo.”
As memórias são bichos dóceis que alimentamos carinhosamente na mão. *
“Regressei a Figueira de Castelo Rodrigo e os bichos não deixaram de me apoquentar. Mais um bicho em extinção para a minha Arca de Noé.”, partilha com frequência Renato Roque na página do livro no Facebook (aqui). A casa da Raia, no espaço rural, horizontes vastos de um espaço aberto, em plena natureza, é essencial para Roque, por oposição ao Porto, cidade densa.
As memórias são bichos amáveis que dormem connosco na nossa cama. *
Arca de Noé é um projecto sobre a memória e sobre a perda que a memória implica.” *
As memórias são bichos brincalhões que nos afagam a cabeça e nos arranham o peito, exactamente por cima do coração. *
Arca de Noé parte da dor causada por essa evidência de que as memórias dos meus avós e das suas casas, onde vivi parte da minha infância, me morrem um pouco todos os dias. Transformam-se, deformam-se, desvanecem-se e vão-se extinguindo gradualmente até um dia desaparecerem comigo, como bichos fiéis que não suportam a ausência do dono.” *
As memórias são bichos de focinho colado ao chão, à procura dos cheiros primordiais. *
Sobre a criação do livro, diz Roque:
O projecto desenvolveu-se ao longo de alguns anos, até que no início de 2015, o meu amigo Rui Costa, professor de Design na Universidade de Aveiro, me desafiou para finalmente o realizar, apresentando-o como projecto aos seus alunos do último ano.”*
As memórias são bichos de dentes arreganhados que guardam as portas do passado. *
Aceitei o desafio e oito grupos de estudantes da UA candidataram-se, orientados pelo seu professor e acompanhados por mim, produziram, cada um, uma proposta diferente.
O livro Arca de Noé concretiza o livro que escolhemos de entre os oito belos objectos que foram desenvolvidos nesse processo.”*
As memórias são bichos em perigo de extinção. *
Renato Roque, Arca de Noé, 2015
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* – Em texto incluído no livro Arca de Noé
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Pode ver mais sobre o autor aqui.
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Muito bom.Concordo com a descrição que faz da obra. Um livro que marca . Conheci o autor, ontem. Uma pessoa culta, simples e muito acessível. O livro é rico em pormenores interessantes e conteúdo.
É um livro especial, sem dúvida! Obrigado pela sua partilha.