100 ANOS DE “A FONTE”, DE MARCEL DUCHAMP
A 9 de abril de 1917 completam-se 100 anos da apresentação pela primeira vez da escultura “A Fonte” de Marcel Duchamp, na Exposição Anual da Sociedade de Artistas Independentes, em Nova Iorque.
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Foi a 9 de abril de 1917 que foi apresentada pela primeira vez, em 1917, na Exposição Anual da Sociedade de Artistas Independentes, no Grand Central Palace, em Nova Iorque, a escultura “A Fonte”, assinada por R. Mutt, Richard Mutt, pseudónimo de Marcel Duchamp. A obra de arte foi rejeitada pelo comité de seleção.
“A Fonte” foi fotografada na Little Gallery, no número 291 da Fifty Avenue, em Nova Iorque, por Alfred Stieglitz:
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Alfred Stieglitz, “The Fountain” (“A Fonte”), Marcel Duchamp, 1917
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Stieglitz utilizou como pano de fundo, “The Warriors”, de Marsden Hartley. Esta é a única imagem conhecida da peça original. De acordo com com Calvin Tomkins na sua biografia de Duchamp, a peça original terá sido deitada fora por Stieglitz, tal como outros “ready-made” de Duchamp.
A fotografia foi reproduzida na revista avant-garde, The Blind Man, de que eram editores o próprio Duchamp, Beatrice Wood e Henri-Pierre Roché.
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Revista The Blind Man, n.º 1 (capa)
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O primeiro número tem data de 10 de abril de 1917 e custava 10 cts. O segundo número, onde se insere “A Fonte”, tem data de maio de 1917 e contou com a colaboração de Arensberg, Buffet, Loy e Picabia, entre outros.
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Revista The Blind Man, n.º 2, “A Fonte”
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O texto que a acompanha é crucial para a arte moderna:
Se Mutt fez a fonte com as próprias mãos ou não, não tem importância. Ele ESCOLHEU. Ele partiu de um artigo do dia-a-dia, colocou-o de modo que o seu significado útil desapareceu sob o novo título e ponto de vista – criou um novo pensamento para esse objeto.
Terá sido esta publicação, tanto quanto o escândalo inicial, que fizeram esta peça famosa.
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Marcel Duchamp (Blainville-Crevon, França, 28 de julho de 1887 – Neuilly-sur-Seine, França, 2 de outubro de 1968) era pintor, escultor e poeta. Iniciou a sua atividade como pintor, essencialmente de caráter expressionista e cubista e arte abstrata. Em 1915, deixa a Europa, mudando-se para Nova Iorque, Estados Unidos, onde se irá destacar como escultor, no âmbito da arte dadaísta.
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Alfred Stieglitz, Marcel Duchamp, Palladium print, 1923
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Inicialmente como brincadeira de amigos, entre os quais o pintor Francis Picabia e Henri-Pierre Roché, Duchamp passou a incorporar material de uso comum nas suas esculturas, mas em vez de trabalhá-los artisticamente, considerava-os prontos e exibia-os como obras de arte. Tinha quase 30 anos quando teve a ideia da “A Fonte”. Duchamp recordará que esta surgiu na sequência de uma discussão com o colecionador Walter Arensberg (1878–1954) e o artista Joseph Stella (1877–1946), em Nova Iorque, de acordo com a Tate Gallery.
“A Fonte” é um urinol de porcelana branco, apresentado “deitado”. É a “mais infame obra de arte do séc. XX” (Philadelphia Museum of Arts) e considerada uma das obras mais representativas do dadaísmo e uma das obras de arte mais influentes em todo o mundo. Duchamp questiona o conceito da palavra arte, pela apresentação um objeto ‘já feito’ (ready made), um objeto da vida quotidiana, sem mais intervenção, para lançar o debate de uma forma provocatória.
Duchamp veio a criar várias réplicas da peça: a primeira, em miniatura, para a sua Box in a Valise (1935-41, Philadelphia Museum of Art, 1950-134-934). Em 1950, para a exposição Challenge and Defy na Sidney Janis Gallery, autorizou Janis a comprar um urinol em segunda mão, em Paris, e acrescentou sua inscrição original. Esta a peça que se conserva no Philadelphia Museum of Art, a vista por Cage, Rauschenberg e muitos outros ao longo dos anos 1950 e 1960.
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Duchamp, “A Fonte”, réplica, Philadelphia Museum of Art, 1950
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A Tate Gallery possui uma outra réplica, de 1964:
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Duchamp, “A Fonte”, réplica, Tate Gallery, 1964
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A assinalar o centenário, pelo menos museus de dez países: Estados Unidos, Alemanha, Japão, China, Israel, Reino Unido, França, Suécia, Holanda, Suíça, vão ter a entrada gratuita aos visitantes que disserem Richard Mutt, entre as 15h e as 16h de domingo 9 de abril.
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Pode ler sobre “A Fonte” no site do The Art Institute of Art of Chicago – Mary Reynolds Collection, aqui; no site do Philadelphia Museum of Art, aqui e no site da Tate Gallery aqui.
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